08 de maio de 2025, data em que se comemora a aparição de São Miguel Arcanjo no Monte Gargano, na Itália, o mundo acompanhava ansiosamente a escolha do novo Papa. Pela manhã, fumaça preta, teríamos mais uma rodada de escrutínios à tarde. Por volta das 13h, enquanto o público observava uma família de gaivotas que os acompanhava durante as longas horas de espera, surge a fumaça branca: TEMOS PAPA!
As expectativas e apostas estavam certas? Parolin? Erdo? Tagle? Zuppi? Sarah? Não. O escolhido pelo colégio dos cardeais foi o agostiniano Robert Francis Prevost, de 69 anos. Seu nome escolhido? Leão XIV. O último Papa com o nome de Leão foi aquele que em 1884 criou a oração de São Miguel Arcanjo. Enquanto ainda estava na sacristia, ele teria parado subitamente, como se estivesse escutando algo. Seu rosto teria ficado pálido e ele teria caído, sendo amparado pelos que estavam ao redor. Depois de recobrar os sentidos, Leão XIII teria descrito que viu Satanás conversando com Deus, propondo um desafio de que conseguiria destruir a Igreja. Deus teria permitido a Satanás cerca de 100 anos de mais influência.
Movido por isso, o Papa criou a Oração a São Miguel Arcanjo, pedindo proteção contra os ataques do demônio. Essa oração foi posteriormente recomendada para ser rezada após a Missa: “São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede o nosso refúgio contra as maldades e ciladas do demônio…”. Coincidência ou a mão da Providência Divina está agindo?
Mas quem é Robert Prevost?
Nascido em Chicago, filho de pai francês e mãe italiana, Robert Prevost estudou no seminário menor dos religiosos de Santo Agostinho no qual ingressou em 1º de setembro de 1977, foi ordenado sacerdote em Roma em 19 de junho de 1982 e fez doutorado em Direito Canônico. Ele então se tornou um missionário agostiniano no Peru. Em 2001, o Capítulo Geral Agostiniano o elegeu Prior Geral. Em novembro de 2014, foi nomeado por Francisco como administrador apostólico da diocese de Chiclayo e em janeiro de 2023 o Papa Francisco o nomeou prefeito do Dicastério para os Bispos, sucedendo o canadense Marc Ouellet.
Ele fala fluentemente cinco idiomas: inglês, espanhol, italiano, português e francês.
O que podemos esperar do novo Papa?
Aparecendo na sacada com as vestes papais tradicionais utilizadas por seus predecessores desde João XXIII (com exceção de Francisco), Leão XIV é um canonista respeitado que pessoas próximas descrevem como uma pessoa reservada e que pensa muito antes de agir e também um bom administrador. É uma escolha sábia, haja vista o caos jurídico, canônico e financeiro que se instalou na Santa Sé nos últimos anos. Além disso, naturalmente, as pessoas se questionam sobre seus ensinamentos em relação à fé e moral. Em um discurso feito aos bispos em 2012, ele expressou preocupação com o fato de que a mídia ocidental e a cultura popular estariam incentivando a aceitação de crenças e comportamentos que, segundo ele, vão contra os ensinamentos do Evangelho. Entre os exemplos que citou, estavam o “estilo de vida homossexual” e as “famílias alternativas formadas por casais do mesmo sexo e seus filhos adotivos”.
Quando era bispo em Chiclayo, no noroeste do Peru, ele também se posicionou contra um projeto do governo que propunha incluir conteúdos sobre identidade de gênero no currículo escolar. Em entrevista à imprensa local, afirmou que “a ideologia de gênero é confusa, pois tenta criar categorias de gênero que não existem”.
Durante o Sínodo em 2023, manifestou-se contrário à ordenação de mulheres. Segundo ele, essa medida não seria uma solução para os desafios enfrentados pela Igreja.
Em entrevista ao jornal La República, do Peru, em 2022, ele disse sobre a pena de morte: “Temos que estar sempre a favor da vida, em todo momento. Isso significa que, não pessoalmente, mas como igreja, que a pena de morte não é admissível”.
Temas como racismo, sinodalidade, meio-ambiente, críticas ao governo Trump em relação à imigração e ideologia de gênero estão presentes em seus posts no X. Seguindo os passos de seu antecessor Leão XIII, acredito que Leão XIV trará um forte ensinamento sobre o lugar da Igreja no mundo, focando no ensinamento social católico. Ainda é cedo para fazer prognósticos de como será seu pontificado, mas sua escolha é um reflexo de uma Igreja que clama por ortodoxia no ensino, moderação, clareza canônica, boa administração e que sente o crescimento do catolicismo nos Estados Unidos. A Igreja dos EUA atualmente é responsável por quase ⅔ do dinheiro que arrecada a Igreja Católica no mundo e a boa relação da Santa Sé com a conservadora USCCB (Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos) e a comunidade católica desse país torna-se crucial para as finanças do Vaticano que desmoronaram no pontificado anterior.
Autor: Marcos de Lima.